Porque a nossa viagem começa no dia em que nascemos, JustGo With vem dar a conhecer vidas e mostrar que todos somos diferentes no caminho que tomamos, nos tropeços que encontramos e no amor que damos.
Viajantes desta vida,
que nem sempre é em linha recta, que para uns é mais direita do que para outros, mas que todos a fazemos o melhor que conseguimos.
Quais são os teus tropeços?


JustGo With … Raquel Morgado

Para a Raquel viajar é viver. E, por isso, o seu lema é 365 dias no mundo a viajar. Este é o nome do blog que criou com o marido Tiago, em 2017, quando iniciou uma volta ao mundo que, afinal, resultou numa meia-volta, o que não quer dizer que tenha parado, apenas passou a fazê-lo com mais passagens no seu país preferido – Portugal.
Raquel tem 35 anos, é técnica de radiologia, ansiosa por saber tudo, gosta de ler, ver séries, “esplanar” com amigos, comer e fazer compras.
Na bagagem, leva, por vezes, alguns quilos de medicamentos, não vá a colite ulcerosa que não a larga, lembrar-se de chatear, mas o planeamento minucioso que faz sai quase sempre vencedor.


… gosto de saber para onde vou e porquê.


O QUE SIGNIFICA VIAJAR PARA TI?
Viajar é enriquecer a minha vida com experiências, conhecimento, memórias e conhecer novas pessoas e culturas.

QUAIS SÃO OS TEUS TROPEÇOS?
Tenho muitos, sou ansiosa e gosto de saber para onde vou e porquê. Gosto de ter tudo planeado para diminuir a probabilidade de imprevistos. Em termos físicos tenho uma doença autoimune sem cura que me limita de certa forma.

COSTUMAS VIAJAR? EM TRABALHO OU LAZER?
Sim, tanto em trabalho (hoje em dia mais pelo blog do que pela radiologia) como por lazer.

O QUE DIZEM AS VIAGENS DE TI? QUE TIPO DE VIAJANTE ÉS?
Apesar de já ter viajado de mochila às costas e de ter sido uma experiência fantástica sou uma viajante ávida. Em cada destino onde vou quero conhecer o máximo do lugar, não perder pitada. E isto resulta melhor nas viagens mais curtas, até um mês, do que em “mochilões”.

O MELHOR DA VIAGEM?
Tenho dois momentos, o momento em que a vivo, e o momento em que recordo da viagem. Também o inesperado. E descobrir em cada viagem que é possível conhecer algo novo e incomparável com o que conhecia até aí. Recentemente fui à Islândia e vi pela primeira vez uma aurora boreal, um bom exemplo desta sensação.

AVIÃO, COMBOIO, CARRO, BICICLETA OU A PÉ?
Adoro viajar de avião, talvez por ter começado com duas semanas de vida, mas também gosto de uma boa viagem de comboio e da liberdade que uma road trip gerida por mim me dá. Bicicleta e a pé, só se forem percursos curtos ou para fazer um trilho, sou muito preguiçosa para o exercício físico. A exceção é quando visito uma nova cidade, sendo habitual caminhar 15km por dia.

PREFERES VIAJAR SOZINHO(A) OU ACOMPANHADO(A)?
Já viajei sozinha em trabalho, mas gosto mesmo é de viajar acompanhada, em família. Talvez porque eu e o Tiago já o fazemos há tanto tempo que conhecemos a nossa dinâmica em dupla.

TENS ALGUM HANDICAP (MEDO, FOBIA, DEFICIÊNCIA, DOENÇA) QUE CONDICIONE A TUA FORMA DE VIAJAR?
Tenho uma doença inflamatória intestinal, colite ulcerosa. Apesar de viver o dia-a-dia como se a doença não me condicionasse, acaba por interferir em algumas decisões.

PODES EXPLICAR UM POUCO DA TUA DOENÇA? O QUE IMPLICA NO TEU CASO?
A colite ulcerosa é uma doença autoimune sem cura. Não se sabe bem o que a causa, pensa-se que há algum factor genético, tanto que na minha família somos três com a doença. As doenças inflamatórias intestinais caracterizam-se por uma irritação no intestino, umas feridas que sangram e levam a um mal-estar, dores, perdas hemáticas, falta de força, idas constantes à casa de banho e medicação diária. Casos mais graves podem obrigar a cirurgia e até à retirada total do intestino. Casos mais leves vivem “bem” com a medicação, apenas com algumas crises aqui ou acolá, principalmente em alturas de stress ou fragilidade do sistema imunitário. Eu considero o meu caso no meio destes dois extremos, talvez mais para o leve. Costumo ter uma crise anual, mas nunca fui operada, apesar de já ter estado internada. É mesmo por ter estado internada vários dias e visto casos bastante mais graves que me considero uma sortuda no meio das doenças inflamatórias intestinais.

CONDICIONA A FORMA COMO VIAJAS?
Estaria a mentir se dissesse que não. Eu tento ter uma vida normal, mesmo na alimentação, mas sim, sei que faço algumas escolhas condicionadas pela doença. Neste momento, como faço tratamentos imunossupressores em ambiente hospitalar intercalados de 6 em 6 semanas, acaba por condicionar a agenda das viagens, viajando apenas nesses intervalos.

COMO O CONTORNAS EM VIAGEM?
É imprescindível o quarto ter casa de banho privativa. Não salto refeições, ando com snacks, evito lactose, leguminosas e açucares refinados. Apesar de querer gastar o mínimo possível evito fast-food. Por exemplo, para a Islândia levei imensa comida, não instantânea como muita gente faz, porque isso não funciona comigo, mas coisas fáceis de cozinhar.

LIMITA A ESCOLHA DO DESTINO?
Talvez, por exemplo, ir à India. Penso muito se o quero fazer, porque o que para alguém sem a minha doença é um dia ou dois com problemas intestinais, para mim podem ser umas férias estragadas.

ALGUMA SITUAÇÃO DE AFLIÇÃO DEVIDOÀ TUA DOENÇA OU UMA SITUAÇÃO ENGRAÇADA QUE POSSAS CONTAR?
Em viagem, até agora, tenho-me sentido lindamente, talvez porque o stress é menor. Na fronteira Chile/Argentina, após passar a mochila no scanner tive que mostrar a medicação que levava para oito meses, qualquer coisa como 240 saquetas que pesavam quase 1,5kg. Felizmente uma das funcionárias da fronteira conhecia a doença e tinha comigo a declaração do médico que explicava a necessidade de viajar com estas quantidades de medicação.

MESMO ASSIM VALE A PENA VIAJAR?
Claro que sim, vale sempre a pena. O risco é calculado, viajo com seguro, aviso os meus médicos que vou viajar, preparo a medicação, investigo o destino e vejo como é o sistema de saúde do local. E o stress em viagem é diferente do stress do dia-a-dia, sinto-me melhor em viagem.

DÁS ALGUMA SUGESTÃO/DICA A QUEM TEM UMA DOENÇA COMO A TUA PARA VIAJAR?
Pensem num destino que queiram muito fazer, conheçam a vossa doença e o vosso corpo. Com calma, investiguem se o destino vos deixa confortáveis para lá ir, apesar da vossa doença. Se sim, preparem-se, preparem a medicação, comprem a viagem e siga! Digo com calma, porque o importante é a viagem não ser mais um fator de stress.

QUERES PARTILHAR UMA VIAGEM/AVENTURA QUE TENHAS FEITO E GOSTADO MUITO? A VIAGEM QUE MAIS GOSTASTE? ONDE FOI, O QUE FIZESTE, PORQUE GOSTASTE TANTO?
À Islândia, talvez por ter sido a última. Não só porque é a Islândia, com uma natureza incrível, mas também porque foi feita quando regressei ao trabalho após o internamento e um longo período de recuperação. Foram várias experiências fantásticas, como ver as auroras boreais, nadar numa fenda entre placas tectónicas em águas geladas, ou entrar num glaciar. Não era a viagem planeada, o plano era ir a Myanmar, mas não tive autorização médica para uma viagem tão longa.

SE SÓ PUDESSES ESCOLHER UM DESTINO PARA VIAJAR PARA SEMPRE, QUAL SERIA? JÁ LÁ ESTIVESTE? DESCREVE ESSE DESTINO E PORQUÊ A ESCOLHA?
Portugal. O nosso país é um destino tão completo, das ilhas ao continente. A Madeira tropical e as suas levadas, os Açores verdejantes com ilhas tão diferentes entre si, e o continente com a costa maravilhosa e o interior aconchegante. Já para não falar da nossa cultura e gastronomia.

QUAL A TUA VIAGEM DE SONHO? JÁ A FIZESTE? SE SIM, CORRESPONDEU ÀS EXPECTATIVAS?
Sonho fazer uma viagem longa a África que passe pelo delta do Okavango, as Victoria Falls, um safari, o deserto da Namíbia e conhecer os gorilas.
Das que já fiz, foi sem dúvida as ilhas Galápagos. Apesar de ser uma viagem cara, recomendo a toda a gente. Os animais estão ali tão próximos, vive-se em contacto permanente, com uma vida marinha como nunca vi.

O QUE TE DÃO AS VIAGENS?
Dão-me “mundo”, conheço outras realidades. Sejam os animais no seu habitat natural, sejam os efeitos da mão humana nos locais remotos, como uma praia cheia de lixo. Sejam as famílias que vivem numa realidade completamente diferente da minha, que colocam tudo em perspetiva.

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