Porque a nossa viagem começa no dia em que nascemos, JustGo With vem dar a conhecer vidas e mostrar que todos somos diferentes no caminho que tomamos, nos tropeços que encontramos e no amor que damos.
Viajantes desta vida,
que nem sempre é em linha recta, que para uns é mais direita do que para outros, mas que todos a fazemos o melhor que conseguimos.
Quais são os teus tropeços?


JustGo With … Mafalda Ribeiro

O seu sorriso é contagiante! Aliás, esse é o seu lema de vida, Sorrir Sobre Rodas, e é, também, o título das suas palestras como oradora motivacional.
Mafalda Ribeiro tem 38 anos, é formada em Jornalismo, palestrante e autora, mas, acima de tudo, é uma excelente comunicadora e uma optimista por natureza, mostrando-nos sempre o lado bom das coisas.
Adora escrever e nós adoramos ler o que escreve. Publicou as suas crónicas no livro Mafaldisses e escreve artigos de opinião em vários meios de comunicação.
Tem uma doença rara, Osteogénese Imperfeita, mais conhecida pela Doença dos Ossos de Vidro, mas, de modo nenhum, se sente limitada.
Para a Mafalda, viajar é um desafio que faz questão de vencer mesmo quando não lhe apetece, pois sabe que, no final, o saldo é sempre positivo. Acha que devemos partir para a aventura, sempre disponíveis para a descoberta do desconhecido e, por estas e por outras tantas razões, para quem não a conhece, aconselho os seus TED Talks e a sua página de instagram @mafimary pois será uma descoberta fantástica.


O exercício é esse sempre: não deixar de ir, quando algo por dentro nos puxa para baixo!


HOBBIES /PAIXÕES /PROJECTO /CURIOSIDADE
Hobbies: ler, viajar, estar à mesa com amigos, ir ao teatro
Paixões: Sou apaixonada por Deus, pelas pessoas que Ele criou e pela comunicação.
Projectos: Tenho as gavetas a deitar por fora, sou daquelas que estou sempre a sonhar, a ter ideias e a inventar. Agora estou na etapa de me tornar disciplinada até aos 40 anos.
Curiosidades: gostava muito de fazer um Cruzeiro!

COSTUMAS VIAJAR? EM TRABALHO OU LAZER (OU OUTRO)?
Sim, mas já viajei mais e tenho umas saudades loucas de entrar num avião. O ideal para mim seria uma vez por ano a lazer e muitas, em Portugal principalmente, em trabalho. 

O QUE DIZEM AS VIAGENS DE TI? QUE TIPO DE VIAJANTE ÉS?
Que não as uso para “descansar”, mas para viver aventuras, descobertas, adquirir conhecimento e alargar horizontes. Sou daquelas que, quando viaja, prefere a cidade, a história, a vida cultural e cosmopolita a destinos paradisíacos em dolce far niente.

O QUE SIGNIFICA VIAJAR PARA TI?
Sair da minha própria ilha de conforto, da ilha que outros ditam acerca do que posso ou não fazer, para ir conhecer a ilha que é o nosso mundo.

O MELHOR DA VIAGEM?
As pessoas com quem partilho a viagem. O cenário é a moldura para as memórias que criamos.

AVIÃO, COMBOIO, CARRO, BICICLETA OU A PÉ?
Adoro o avião, nunca tive medo algum. Comboio viajo pouco, infelizmente, mas gostava de fazer algo com muitos km num. Carro gosto muito e já fiz várias roadtrips, a favorita foi 10 dias em Itália. Bicicleta, só no tempo em que coube no cestinho
Troco o a pé pelo sobre rodas, mas se existissem mais ciclovias.

PREFERES VIAJAR SOZINHO(A) OU ACOMPANHADO(A)?
Não sei o que é sequer viajar sozinha. Mas, sinceramente, vejo muito mais benefícios nisto não de depender de alguém mas de partilhar com alguém a beleza de viajar.

QUAIS SÃO OS TEUS TROPEÇOS? (MEDO, FOBIA, DEFICIÊNCIA, DOENÇA, OUTRO HANDICAP)
Tenho Osteogénse Imperfeita, como não ando… logo, não tropeço!

PODES EXPLICAR UM POUCO DA TUA DOENÇA, O QUE IMPLICA NO TEU CASO?
É uma doença rara congénita. Implica uma fragilidade óssea gigante e por isso não cresci, fiz mais de cem fraturas ao longo da vida, por tudo e por nada basicamente, nunca andei pelo meu pé e fiquei pequenina pois os membros não se desenvolveram devido às deformações e à condição da doença em si. Portanto, tenho 95% de incapacidade motora, mas não tenho qualquer tipo de paralisia. Desloco-me em cadeira de rodas, tanto elétrica como manual. Nas viagens levo sempre a manual mas tenho de ser empurrada pelos amigos pois não tenho força para o fazer sozinha.

CONDICIONA A FORMA COMO VIAJAS?
Sim. Mas condiciona também a forma como vivo no meu país e na minha cidade. Ou seja, o que me condiciona não é a minha deficiência ou a forma como viajo… mas as barreiras arquitectónicas que posso ou não encontrar. Se calhar o mais básico é eu ter a perfeita noção que não posso colocar uma mochila às costas e partir, pura e simplesmente. Primeiro, porque com o peso dela sou capaz de me partir (risos), depois porque tem de haver um trabalho de repérage (como se diz em jornalismo) antes. No fundo, é sempre como se fosse sair em reportagem. Depende de mim que isso não me condicione a vontade de viajar e o encantamento ao longo da viagem em si.

COMO O CONTORNAS EM VIAGEM?
Os meus companheiros de viagem, vulgo amigos, são os maiores em arranjar 5 soluções para cada problema. Há todo um mestrado em driblar os obstáculos ou estar disponível para levar mais tempo a atravessá-los. Por isso a beleza das minhas viagens, como no dia-a-dia, está nas pessoas que escolhem empurrar a minha cadeira. O mérito é todo deles, independente das pedras que encontremos nos caminhos.

LIMITA A ESCOLHA DO DESTINO?
Limitar não limita, obriga-me só a ser mais criativa. A ser seletiva e a aceitar ser surpreendida em vez de eu mesma ser intransigente nas minhas escolhas.

ALGUMA SITUAÇÃO DE AFLIÇÃO DEVIDO A ESSE HANDICAP OU UMA SITUAÇÃO ENGRAÇADA QUE POSSAS CONTAR?
É quase sempre a parte em que no aeroporto tenho de “despachar” a minha cadeira de rodas e fico na do serviço my away. Vê-la ir tapete adentro parte-me o coração e depois é trabalhar a ansiedade até ver se ela vai chegar, e como, ao destino ao mesmo tempo do que eu.
Situação engraçada? Eu esforço-me por tornar cómicos os momentos em que a coisa não tem graça nenhuma. Talvez seja uma forma de me acalmar. À chegada a Roma deram-me uma cadeira de rodas que parecia que se ia desmembrar a qualquer instante, enorme para mim e cor de laranja fluorescente, enquanto esperava pela minha no aeroporto. Demorou horrores e ter de esperar naquelas condições tornou tudo mais enervante. Acho que quando vi a minha rodinhas chegar senti o alívio e a alegria de uma mãe que vai receber o filho militar  regressado da guerra (risos)!

MESMO ASSIM VALE A PENA VIAJAR?
Eu olho para as viagens e, no meu caso, no trabalho que dão a preparar – toda uma ginástica e desgaste mental para alguns – como olho para aqueles dias em que temos um evento qualquer, por mais básico que seja, e estamos com vontade zero de sair de casa, até do sofá. Às vezes, vamos de mau humor, quase obrigados, pois sabemos que a nossa presença é importante para quem nos convidou e queremos honrar isso, mas não nos apetece nada. E depois o que é que acontece? Vimos desse lugar com aquela sensação quase ridícula de “ainda bem que fui, fez-me tão bem e foi tão bom”. O exercício é esse sempre: não deixar de ir, quando algo por dentro nos puxa para baixo!

DÁS ALGUMA SUGESTÃO DICAS A QUEM TEM UM HANDICAP COMO O TEU PARA VIAJAR?
Tenham sempre um plano B e se calhar um C, mas nunca se esqueçam do factor D.
No meu caso, é confiar que todas as minhas entradas e saídas estão guardadas por Deus… se não fosse assim perante a minha fragilidade nunca sairia de casa.
Mas podem também encarar o fator D como Descoberta+Disponibilidade+Desconhecido. Ou seja, estejam Disponíveis para a Descoberta do Desconhecido quando viajam. Mesmo quando parece que o mundo não está disponível para vos receber ou incluir, nunca percam a disponibilidade emocional de continuar a “ir” e a conhecer lugares e pessoas diferentes.

QUERES PARTILHAR UMA VIAGEM/AVENTURA QUE TENHAS FEITO E GOSTADO MUITO? A VIAGEM QUE MAIS GOSTASTE? ONDE FOI, O QUE FIZESTE, PORQUE GOSTASTE TANTO?
Seria injusto escolher “a” viagem ou a que gostei “mais, pois também não gosto de o fazer com os livros, as músicas, os espectáculos, os filmes, etc. Também não o faço com as pessoas. A última viagem que fiz, sem ser a trabalho, se calhar é especial porque foi a mais recente. Por isso recordo Nova Iorque.
Foi uma aventura porque eram muitas horas de avião, seriam 10 dias lá e não estava assim com grande expectativa de poder adorar. Enquanto há o sonho americano para muitos, eu nunca o tive, se calhar por Manathan também ser conhecida como a cidade dos arranha-ceús e eu ter receio de me sentir ainda mais pequena (risos). Fui com amigos porque iamos participar numa conferência cristã em New Jersey numa semana e na outra íamos descobrir Nova Iorque. Foi ma-ra-vi-lho-oso!!! Talvez por ser também a cidade que nunca dorme e eu ser um bocadinho assim também, dois dias depois já me sentia em casa em vez de turista. Aliás, gostei tanto que vou querer voltar, estava só à espera que o Trump se fosse embora. 

SE SÓ PUDESSES ESCOLHER UM DESTINO PARA VIAJAR PARA SEMPRE, QUAL SERIA? JÁ LÁ ESTIVESTE? DESCREVE ESSE DESTINO E PORQUÊ A ESCOLHA?
A Barcelona, aliás se pudesse tinha uma casa lá e passava seis meses lá e outros seis em Portugal. Já lá estive várias vezes, mas agora não vou há muitos anos e tenho de mudar isso. Acho que vivia lá porque foi o local onde me esqueci literalmente que era uma pessoa com mobilidade reduzida. E é só atravessar a fronteira… Quando me vêm falar de dificuldades em tornar os serviços, equipamentos, transportes públicos, monumentos, natureza, praia, etc. acessíveis dou o exemplo dos catalães. São os melhores!

QUAL A TUA VIAGEM DE SONHO? JÁ A FIZESTE? SE SIM, CORRESPONDEU ÀS EXPECTATIVAS?
Até a fazer, era ir a Israel. Fiz essa viagem no final de 2011, que acabou por ser o ano da minha vida, o melhor e o pior. Mal entrei no avião zerei as expectativas e sei que por tudo isso foi surpreendida diariamente, durante os 7 dias em que lá estive, nos mais pequenos detalhes.
Agora a minha viagem de sonho é ir a Sidney, na Austrália.

O QUE TE DÃO AS VIAGENS?
Centímetros em profundidade.

DEFINE VIAGEM NUMA PALAVRA
Audácia.


MAFALDA RIBEIRO

INSTAGRAM: mafimary

FACEBOOK: Mafalda Ribeiro


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