Como costumo dizer, para viajar não é preciso ir para o outro lado do mundo pois podemos fazê-lo no nosso país e, até mesmo, na nossa cidade.

Nos últimos fins de semana fui até Lisboa, o que faço com muita frequência, já que vivo muito perto e decidi percorrer algumas zonas da cidade onde não ia há muito tempo, desde que estou em cadeira. Isto prende-se com o facto de ter adquirido uma roda de propulsão eléctrica que se fixa à minha cadeira e que, além de me facilitar na deslocação, ajuda nas subidas e descidas mais acentuadas da cidade das sete colinas.

Até aqui, eu achava que Lisboa estava muito bem preparada para quem anda em cadeira de rodas. Claro, defendia-me e só ia para os locais mais acessíveis. Não que não soubesse que existiam obstáculos, mas, sinceramente, evitava-os, mais devido à inclinação do terreno do que pelas acessibilidades.

Ao aventurar-me para outras zonas mais características e velhas da cidade, logo mais turísticas, verifico que não estão preparadas para quem tem mobilidade reduzida e se desloca em cadeira de rodas.

Posso compreender que não se consiga evitar o declive do terreno e que, nalguns sítios, seja muito complicado mexer nalguma estrutura sem descaracterizar a zona, mas rebaixar passeios nas passadeiras é o mínimo que já devia ter sido feito há muito tempo, por toda a cidade.

Descobrir Lisboa

Tem sido fácil estacionar nos lugares para mobilidade reduzida que se encontram pela cidade, pelo menos nesta altura de verão e aos fins de semana. Foi o que fiz, evitando assim o custo dos parques.

Descemos a Avenida da Liberdade, passámos os Restauradores e o Rossio e subimos pela Rua do Carmo até ao Chiado. Seguimos pela Rua Garret e fizemos a Serpa Pinto.

Nesta é prego a fundo e que ninguém me faça parar porque se não já não arranco!!

Foi sempre a subir até à Trindade onde almoçámos. A Cervejaria Trindade é acessível e tem casa de banho adaptada. Foi uma escolha agradável.

Voltámos a descer, desta vez pela Rua da Misericórdia, percorremos algumas ruas da zona do Chiado e fomos até à Baixa, que atravessámos até à Rua dos Franqueiros.

E aqui começou a autêntica epopeia de subir até ao miradouro das Portas do Sol.

Foi dos percursos mais difíceis que já fiz. Grande parte dele tive que o fazer na estrada porque os passeios eram tão estreitos que a cadeira de rodas não passava. E, para os descer e subir, só com ajuda porque não estavam rebaixados.

A estrada, nem por isso era mais fácil já que nalgumas partes era em pedra e, para complicar, existem os carris do eléctrico, onde é fácil encaixar uma roda e, depois disso já não saio de lá sozinha. Ahhh, e o próprio eléctrico que, como sabem, não se desvia do caminho dele, ou seja, não se desvia de mim.

Foi difícil, mas cheguei lá. Para mim, valeu muito a pena, mas não deixei de arriscar bastante até lá chegar, pelo que cabe a cada um de nós decidir até onde quer ir e o que quer arriscar.

Há muito tempo que queria ir a Alfama, sentir este bairro tão característico sendo um dos mais velhos de Lisboa. O tempo estava fantástico. Não havia grande confusão e consegui apreciar a vista fabulosa que nos dá o miradouro das Portas do Sol.

E, agora, a descida! Nem por isso mais suave, mas um pouco mais fácil. Mais fácil porque tinha a minha roda, se não era impossível!
Adorei percorrer aquelas ruas estreitas tão peculiares e pitorescas. Parece que viajámos para outra época, onde tudo ainda é genuíno.

Passámos pelo Museu do Fado em que não entrámos, e pela Casa dos Bicos onde aproveitei para ir à casa de banho adaptada. Daqui, só parámos na Avenida da Liberdade para hidratar com uma cervejinha e terminou o nosso passeio.

Se estivéssemos do outro lado do mundo, ou em qualquer lugar que sabíamos que dificilmente voltaríamos, teríamos aproveitado mais um bocadinho o dia, mas este é o nosso ritmo quando andamos em viagem.

Mecanismos auxiliares

Mesmo que as cidades se tornem completamente acessíveis em termos de piso, de largura e rebaixamento de passeios, não conseguiremos nunca mudar-lhes o declive. Esta é uma verdade.

E, quando não conseguimos mudar algo que nos complica a vida, o melhor é arranjar estratégias para não deixarmos de fazer coisas que nos dão prazer ou que precisamos mesmo de fazer no nosso dia a dia.

Há muitos anos que tenho uma unidade de propulsão manual, a Gofreewheel, uma roda da qual já falei neste artigo, A minha melhor amiga, que se fixa na minha cadeira e levanta as rodas da frente dando-lhe estabilidade e segurança.
Esta roda tem-me acompanhado em muitas situações, mas, principalmente, em viagem, dando-me liberdade e permitindo-me aproveitar e apreciar os locais por onde passo de uma forma descontraída e independente, sem necessitar de ajuda.

Agora, fiz um upgrade e passei para uma eléctrica, que evitei durante algum tempo porque achava que era melhor fazer exercício. Mas rendi-me e em boa hora o fiz! Como viram, com esta roda, consigo ir a sítios onde não ia.

JustGo!!

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