Acabada de chegar de uma das maiores e, talvez, a melhor viagem que fiz até hoje. Foram três semanas, quatro países, seis cidades, seis hotéis, sete viagens de avião, duas de comboio, muitas de metro e uma de autocarro.
De facto, já fiz outras grandes viagens e maravilhosas, pelo que dizer que esta foi a melhor prende-se com a forma como tudo correu e, realmente, não houve absolutamente nada que tivesse corrido mal. O destino, ou os destinos escolhidos, já prometia, mas, claro que para quem viaja em cadeira de rodas, ir para o desconhecido é sempre um pouco assustador, principalmente, com tantas viagens.
Como costumo dizer, para que uma viagem corra bem, é fundamental uma boa organização, sendo que, mesmo assim, é muito difícil garantir que tudo vai sair pelo melhor, já que as surpresas são muitas no que toca às acessibilidades, e elas surgem sempre. Confesso que parti com grande nervosismo!
O destino principal começou por ser o Japão, mas, claro, ir para tão longe justifica que aproveitemos conhecer outros destinos, daí as 3 semanas e 2 países: Japão e Coreia do Sul. Dubai e Singapura surgem apenas para reduzir o tempo da viagem de avião, pelo que na viagem para lá fizemos paragem em: Dubai– Singapura-Tóquio.
Passámos apenas dois dias no Dubai, onde já tínhamos estado aquando da viagem à China, e, como não conhecíamos Singapura, aproveitámos para o fazer. Ficámos 3 dias e que boa ideia tivemos!
Assim, a viagem foi:
• Lisboa – Dubai -> de avião
o Dubai – dois dias
• Dubai – Singapura -> de avião
o Singapura – 3 dias
• Singapura – Tóquio -> de avião
o Tóquio – 4 dias
• Tóquio – Quioto -> de comboio
o Quioto – 4 dias
• Quioto – Busan -> de avião
o Busan – 3 dias
• Busan – Seul -> de comboio
o Seul – 4 dias
• Seul – Singapura – Dubai – Lisboa -> de avião
Viagens de avião
Todos nós, nos últimos tempos, nos deparamos com notícias de atrasos de voos, de voos sobrelotados, de companhias em greve, de aeroportos caóticos e o incrível é que não apanhámos nada disto e correu tudo como previsto, sem atrasos, sem cancelamentos e quase sem surpresas relativamente à minha entrada e saída dos aviões.
Ao viajar de avião, um dos grandes medos para quem está numa cadeira de rodas é que a possam danificar e isso, por incrível que pareça, acontece com alguma frequência. A razão é pela forma como a levam para o porão ou quando anda nos tapetes, sem o cuidado necessário, quando é despachada no check-in.
Pela primeira vez, a minha cadeira viajou comigo na cabine do avião! Isso já acontece nalguns aviões, mas depende das cadeiras e da forma como se fecham e a minha nunca tinha podido ir. A viagem de regresso entre Singapura e Dubai aconteceu no gigante A380 da Emirates e isso foi possível!
Quais foram as vantagens?
• Garantiu que, quando cheguei ao destino, ela estava imediatamente disponível e assim consegui sair do avião ao mesmo tempo que todas as outras pessoas (já cheguei a esperar uma hora para sair de um avião);
• Outra grande vantagem é que desta forma a garantia de que chega intacta é total.
• Outro grande pormenor da Emirates é que são eles que tratam de tudo dentro do avião, ou seja, eu vou até ao avião com a minha cadeira e passo-me para a cadeira de cabine, do próprio avião, na qual me levam até ao meu lugar. Este processo é feito pelo pessoal de bordo da companhia e não pelo pessoal do aeroporto (estes nem sequer entram dentro do avião).
No meu caso, esta é a melhor forma de viajar de avião. Para melhorar, só se pudesse entrar com a minha cadeira na cabine e passar-me directamente para o assento do avião, como aconteceu no ano passado com a Turkish airlines, na minha viagem à Turquia.
Há um longo caminho ainda a percorrer até se chegar a uma solução ideal que sirva a todos, mas estas pequenas alterações fazem toda a diferença!
Outra das companhias em que viajei foi a Scoot, uma low cost subsidiária da Singapore Airlines que, ao pedir assistência, avisa logo que tenho que despachar a minha cadeira no check-in e, só por isso, quase que perdi a vontade de viajar com eles, mas o preço do bilhete falou mais alto.
Fiz 2 viagens com eles, Singapura – Tóquio e Seul – Singapura. Consegui nas 2 viagens levar a minha cadeira até a porta do avião, mas não me livrei, na chegada a Singapura, de que a minha cadeira não estivesse lá minha espera, pelo que tive que ir numa cadeira do aeroporto, empurrada por um funcionário, até ao tapete. Além do desconforto que é andar noutra cadeira que não a nossa, e de não o podermos fazer com Independência, é, normalmente, aqui que acontecem os problemas com as nossas cadeiras, mas felizmente, estava tudo bem. Tudo o resto, só não foi perfeito, porque o sistema não é perfeito e há ainda muita coisa melhorar.
Viagens de comboio
Com os comboios funcionou tudo na perfeição, sendo que comprámos os bilhetes na véspera das viagens, onde demos conhecimento de que eu iria em cadeira de rodas, ficando desde logo marcada a assistência, que funcionou como previsto. Nestes países, não sei qual é a antecedência conveniente para solicitar a assistência porque comprámos os bilhetes antes com medo de já não haver lugar e ninguém disse absolutamente nada de que teria que o ter feito mais cedo. Trataram de tudo com muita eficiência.
Reservar alojamento adaptado
Quando iniciei a tarefa de reservar alojamento para esta viagem, só me apeteceu desistir. Não foi muito fácil, porque desta vez eu quis mesmo garantir que ia estar tudo adaptado e funcional para que pudesse fazer tudo sem ajuda e de forma independente, pelo que pedi fotos, principalmente no que toca às casas de banho dos quartos. Alguns mandaram as fotos, outros diziam que, afinal, não tinham e outros diziam que todo o hotel era adaptado, e já sabemos o que é que isso quer dizer!
Depois de vários cancelamentos e várias tentativas, que quase me deixaram desesperada, lá ficou tudo marcado, sem, no entanto, ter tido que modificar alguns quartos para categorias superiores e pagar mais por isso.
Esperança vs realidade, estava tudo mais ou menos funcional, tirando uma sanita numa área muito estreita, no hotel de Tóquio, para onde me passava com alguma dificuldade, mas sozinha como pretendia, e um quarto sem cadeira de banho, em Busan, que tinha sido confirmado, pelo que tive que tomar banho numa cadeira normal que me facultaram. De resto tudo top!
Metro acessível durante toda a viagem
Em qualquer uma das cidades por onde passámos, não houve nenhuma dificuldade em andar no metro. A maioria das plataformas está de nível e as carruagens têm uma entrada assinalada com o símbolo de pessoa com deficiência para que possa fazer aí o acesso, tendo lá dentro uma área para a cadeira de rodas. Encontrei, nestas 3 semanas, 2 ou 3 carruagens com um desnível maior. No entanto, é possível pedir assistência sempre que quisermos e podemos fazê-lo na zona dos torniquetes, sendo que temos que dizer para onde vamos, uma vez que vão pedir assistência também para quando chegarmos ao destino.
Não encontrei nenhuma estação que não tivesse elevador, apenas há que ter atenção e reparar onde estão, antes de passar os torniquetes, porque alguns estão antes e outros depois.
Pelo que li, 95% do metro de Tóquio está acessível.
Em Seul, sempre que há entrada por escadas para o metro, está afixado um placar que indica onde está a entrada com elevador.
Viagem de autocarro em Busan
Na chegada ao aeroporto de Busan, que ficava muito longe do nosso destino, deparamos com três opções: Autocarros próprios para levar os turistas ou quem chegue de avião, parando em alguns pontos da cidade, que não são acessíveis; Táxis que são a opção mais cara e que não quisemos, ou autocarro normal que faz muitas paragens, mas que são acessíveis e, por isso, essa foi a nossa escolha. O inconveniente é que demorou mais de uma hora a chegar ao nosso hotel, mas assim também ficámos a ter uma ideia da cidade e das pessoas.
A viagem com casas de banho mais acessíveis que já vi
A maior surpresa de todas, no que toca a acessibilidades, foram as casas de banho totalmente equipadas para vários tipos de necessidades e diferentes características das pessoas, principalmente no Japão, mais especificamente em Tóquio.
Além de serem muito fáceis de encontrar, estão equipadas com tudo o que é necessário: lavatório, barras na sanita, pias para pessoas ostomizadas, local para deixar o bebé, muda fraldas, algumas com redutor de sanita para crianças e maca para quem precisa de se mudar deitado. São amplas o suficiente para uma cadeira de rodas, muitas até mais do que uma ao mesmo tempo, para que possa entrar um cuidador quando necessário. O melhor de tudo? Limpíssimas e sempre com papel higiénico, sabonete e desinfectante!!!
Foi incrível encontrar estas casas de banho polivalentes e multifuncionais.
Foi fácil andar pelas ruas durante toda a viagem
Como sabem, uma das coisas que mais gosto de fazer em viagem é andar pelas ruas, misturar-me com os locais e ver como é o seu dia-a-dia. Quanto mais acessíveis forem, mais prazer tiro e mais posso aproveitar.
Encontrei sempre piso liso, passeios largos, passadeiras rebaixadas em qualquer uma destas cidades. De facto, tirando alguma inclinação de terreno, e mesmo isso poucas vezes, foi muito fácil andar pelas ruas e atravessar estradas. E, no Japão, claro, sempre limpas. Quem me dera que fosse sempre assim em todo o lado!
Conclusão
O nervosismo pré-viagem não se justificou, já que correu tudo bem, mas já sei que ele vai estar cá na véspera da próxima!
Sim, como já sabem, nas vésperas das viagens arrependo-me sempre de as ter marcado pois era muito mais tranquilo ficar na minha zona de conforto. Só que o prazer que tiro enquanto estou em viagem, e a certeza que tenho quando chego e sei que correu tudo bem, é o que me faz pensar logo na próxima!
JustGo!!
Ano da Viagem: 2023
Links úteis:
Página Japão acessível com muita informação sobre acessibilidades.