Hotel acessível? São vários os requisitos para que se possa considerar que um hotel está adaptado e acessível a todas as pessoas.
Um espaço acessível é um espaço que proporciona um nível total de autonomia, independência e conforto a todas as pessoas, incluindo pessoas com mobilidade condicionada. No que respeita a um hotel, essa condição deve ser assegurada em todos os serviços de que dispõe como a recepção, o quarto, o restaurante, a piscina, o ginásio, o SPA, salas de reuniões e todas as áreas comuns.
Ao falar de acessibilidade, referimo-nos, principalmente, a pessoas com mobilidade condicionada, onde se incluem grávidas, idosos, pais com bebés, deficiências motoras, visuais, auditivas ou intelectuais ou outras condições temporárias de limitações de mobilidade.
No entanto, as diferenças e os critérios são tantos que, dificilmente, se consegue encontrar um que responda a todas as exigências e estar perfeito para todas as pessoas, sem que isso queira dizer que não cumpre a legislação.
Entendo que os princípios do Design Universal deveriam ser aplicados de raiz evitando, assim, a necessidade de adaptações especiais que nunca vão resultar em condições perfeitas. Esse é o conceito do Design Universal, o de que, qualquer produto ou espaço seja concebido de forma a poder ser utilizado por todas as pessoas, independentemente da sua condição.
Aplicando esses princípios, e numa situação ideal, todos os quartos do hotel estariam acessíveis, devendo existir um ou dois com áreas de maior dimensão.
Hoje em dia, a aplicação da domótica nos hotéis começa a ser uma realidade e esta é uma solução que vem trazer conforto mas, acima de tudo, pode fazer a diferença para a independência de algumas pessoas. Podem ler o meu artigo A domótica nos hotéis ao serviço de pessoas com mobilidade reduzida.
O espaço físico num hotel acessível
Mas, enquanto não evoluímos para a situação ideal, o Decreto Lei Nº 163/2006 de 8 de Agosto estabelece as normas técnicas de acessibilidade a edifícios, estabelecimentos abertos ao público e à via pública e define as regras para a sua aplicação. Assim como a Norma Portuguesa 4523 – Turismo Acessível em Estabelecimentos Hoteleiros.
Deixo aqui, também, a referência ao Decreto Lei Nº 74/2007 de 27 de Março, que define o direito de acessibilidade das pessoas com deficiência visual acompanhados de cães-guia a locais, transportes e estabelecimentos de acesso público.
Em resumo, deixo alguns pontos fundamentais para um hotel acessível:
Reserva
- A divulgação das acessibilidades no site do hotel, complementada com fotos, é fundamental na escolha, no momento da pesquisa de alojamento.
- A opção de reserva desse quarto especifico deveria ser uma opção, sabendo-se, assim, na hora, a disponibilidade ou não do quarto.
O quarto
- Não deverá haver obstáculos para que se possa circular no quarto facilmente com uma cadeira de rodas, ou no caso de a pessoa ter uma deficiência visual;
- A altura da cama deverá estar entre os 45 a 50 cm;
- O sistema do ar condicionado, no caso de não haver comando, deverá estar a uma altura que uma pessoa mais baixa ou em cadeira de rodas o consiga alcançar;
- O alarme deve ser visual e sonoro;
- Os cortinados deverão ser facilmente abertos/fechados, devendo a pega estar alcançável, sendo um sistema eléctrico o ideal;
- No caso de haver varanda, o seu acesso deve ser fácil, sem degraus ou com rampa;
- O roupeiro deve ter sistema que permita chegar aos cabides.
Casa de banho do quarto
- O banho/chuveiro deve estar equipado com cadeira/banco de banho e barras de apoio;
- Deve haver suporte para os produtos do banho, como gel e shampoo, próximo do banco de banho;
- O acesso às toalhas e ao chuveiro deve ser garantido;
- A sanita deve ter barras de apoio de ambos os lados;
- O espelho deverá ter altura indicada para que uma pessoa em cadeira de rodas se possa ver totalmente.
O espaço comum do hotel
- A recepção deve estar preparada para receber uma pessoa em cadeira de rodas tendo um balcão ou uma mesa mais baixos;
- A piscina deve estar equipada com sistema para uma pessoa com mobilidade condicionada consiga entrar/sair. O melhor sistema é uma cadeira hidráulica;
- O restaurante deve ter uma mesa reservada, com fácil acesso e próxima do buffet;
- O SPA e o ginásio devem ser acessíveis;
- Deve existir elevador para acesso a todos os pisos do hotel onde existam serviços;
- Deve haver uma casa de banho acessível no espaço comum do hotel.
Acesso ao hotel
- O parqueamento/garagem deve ser o mais próximo possível da entrada e ter caminho sem barreiras e piso regular.
- No caso de ser necessário deverá existir rampa ou plataforma na entrada de acesso ao hotel;
- Se houver porta giratória deverá ter sistema para activar a rotação mais lenta ou ter porta lateral de fácil abertura e com largura necessária para uma cadeira de rodas.
Sinalética
- Os serviços deverão estar assinalados com sinalética com cores, tamanho e contraste apropriados;
- Anúncios e alarmes de incêndio deverão ser sonoros e visuais;
- A marcação das saídas de emergência deverá estar bem assinalada e iluminada.
O atendimento
Mas a acessibilidade não se pode limitar às barreiras arquitectónicas. O bom atendimento ao cliente com mobilidade condicionada é igualmente importante e, por vezes, fundamental podendo em certas situações compensar alguma falha pontual que possa existir.
A simpatia, o bom senso e o profissionalismo devem estar sempre presentes mas a formação específica dos funcionários deve ser garantida para que saibam receber e lidar com as particularidades destes turistas.
Assim,
- O atendimento à pessoa com mobilidade condicionada deve ser feito da mesma forma que a de outro cliente, personalizada e com simpatia;
- Sempre que pareça necessário, ofereça ajuda mas espere pela resposta e respeite-a;
- Se precisa de alguma informação relativa à pessoa, fale para ela e não para o acompanhante como se se tratasse de uma criança;
- No caso do balcão ser alto, tente arranjar um lugar onde a pessoa o possa ver ou levante-se;
- Não ofereça serviços de que o hotel dispõe mas que não estão acessíveis;
- Se tiver alguma dúvida relativa à limitação da pessoa, pergunte, pois perguntar não ofende;
- Se a pessoa pedir ajuda e não souber como fazê-lo, pergunte;
- O bom senso e a simpatia devem prevalecer sempre.
Design apelativo
Os espaços adaptados são compatíveis com espaços bonitos e com um design apelativo.
Existe, ainda, a ideia de que um quarto para estar adaptado vai parecer um quarto de hospital e isso não é verdade.
Defendo que todos os espaços podem estar adaptados e, ao mesmo tempo, terem estilo, serem bonitos e passarem despercebidos. Hoje, novos conceitos e materiais permitem fazê-lo de forma a que sejam confortáveis, úteis e apelativos. Existem, também, acessórios de apoio, como barras amovíveis, que podem ser retirados quando não são necessários.
Uma oportunidade de negócio
Este é um mercado em crescimento, principalmente, com o envelhecimento da população, estando as cidades a apostar nas acessibilidades o que faz com que pessoas com mobilidade condicionada viajem cada vez mais.
Além da obrigatoriedade dos alojamentos terem de estar acessíveis e adaptados e, se até por uma questão ética devem também fazê-lo, existe ainda a questão económica que deverão aproveitar e apostar num nicho de mercado cada vez com mais potencial. (Ler artigo – Turismo acessível uma oportunidade de negócio)
JustGo!!
2 Comments
Excelente artigo, Sofia. Obrigada pela partilha desta informação. Esperemos que mais hotéis se adaptem (ou idealmente sejam construídos de raiz) com boas condições de acessibilidade para todos.
Olá Diana. Assim espero, para o bem de todos. Aos poucos vai-se fazendo. Obrigada!!