Qual a evolução do turismo acessível? Porque é o turismo acessível uma oportunidade de negócio?

Seguindo as recomendações da Organização Mundial de Turismo / Nações Unidas, turismo define-se como “as actividades que as pessoas realizam durante as suas viagens e permanência em lugares distintos dos que vivem, por um período de tempo inferior a um ano consecutivo, com fins de lazer, negócios e outros”.

Ao ler esta definição, somos levados a reflectir sobre a importância económica que estas actividades do sector terciário representam para cada país, pois movimentam milhões que ajudam ao equilíbrio da sua balança comercial e, directa ou indirectamente, criam incontáveis postos de trabalho.

Pensando, agora, nos diferentes tipos de turismo (de negócios, cultural, lazer, etc….) e tendo em conta que Portugal sempre foi considerado um país seguro, com um clima convidativo e uma gastronomia excelente, toda ela um apelo aos sentidos, justificando, assim, a grande procura que aumenta de ano para ano, verificamos que pouco se fala do chamado “Turismo Acessível”, para pessoas com mobilidade condicionada (PMC), apesar de ir sendo já uma realidade em alguns países, nomeadamente em Portugal.

Permitam-me que extrapole de uma situação geral para, por experiência própria, tecer algumas considerações sobre a situação das PMC.

O facto de uma pessoa ser nova e saudável não faz com que, de um momento para o outro, não se possa deparar com alguma situação de limitação temporária ou, até mesmo, permanente e, atendendo ao aumento da expectativa de vida aumentam, também, as hipóteses de se sofrer alguma limitação pelo que, por esse facto, há que encarar este segmento de mercado com mais empenho e até como uma oportunidade de negócio pois está em crescimento. Os números assim o demonstram:

 

20% da população terá mais de 60 anos em 2050

Dados da Organização Mundial de Saúde

 

Viajar, para uma pessoa com mobilidade reduzida, especialmente para quem está numa cadeira de rodas, não é tarefa fácil!

São muitos os aspectos a ter em conta antes de uma PMC sair da sua zona de conforto. Este termo é  um lugar comum mas creio ser bem aplicado nestes casos pois é mesmo sair da zona de conforto, uma vez que a maior parte das situações não vão estar adaptadas à necessidade de cada um porque cada pessoa tem uma exigência  diferente e é difícil responder a todas as solicitações.

É por isso que a legislação tem que ser abrangente e atender a todas as situações, o que, na prática, se torna quase inviável. No entanto, quero acreditar que é feita com a melhor das intenções e que procura responder ao maior número de casos possíveis. Falta ser revista, nalguns pontos, e que seja acompanhada de fiscalização para que se torne mais eficaz.

Logo, não podemos sair de casa e focarmo-nos apenas no que está mal, até porque, para isso, não é preciso muito esforço, está por todo o lado.

 

Poderei estar errada nesta minha perspectiva mas, se destacarmos aquilo que está bem e procurarmos enaltecer as boas práticas, isso levará a que mais pessoas as queiram seguir.

 

Turismo acessível – cidades

Ao pensar em viajar, as cidades são, normalmente, o destino mais procurado, já que qualquer PMC sabe que é aí que  encontrará melhores condições para se conseguir movimentar sem grandes obstáculos. E isto é uma realidade pois a evolução da acessibilidade nas cidades, nos últimos tempos, nota-se de ano para ano. Dependendo da limitação de cada um, é cada vez mais fácil andar pelas ruas, para quem anda em cadeira de rodas, sem ser necessária qualquer ajuda.

Claro que cidades com grandes inclinações de terreno, ou com centros históricos mais antigos, são difíceis, e, por vezes, impossíveis, de ficarem, completamente acessíveis a todos. Como, por exemplo, a cidade de Évora com o seu piso irregular e as ruas estreitas e inclinadas, no centro histórico. Mas existem, hoje em dia, alternativas e soluções eficazes para muitas destas situações.

Visitar museus, monumentos ou qualquer outra atracção é, na maior parte das vezes, uma tarefa fácil, pois temos prioridade e, muitas vezes, não pagamos, nem nós nem quem nos acompanha.

 

Estive há pouco tempo no Mosteiro da Batalha, um edifício secular, e foi possível visitá-lo, quase na totalidade, pois está garantida a acessibilidade e já programada a sua melhoria, em breve.

 

Turismo acessível – transportes

Os transportes públicos das grandes cidades e capitais, dos países mais desenvolvidos, principalmente os autocarros e comboios, são, na sua maioria, acessíveis e em muitos locais consegue-se andar de metro, sem qualquer problema, o mesmo acontecendo nos eléctricos mais modernos. No entanto, esta não é a realidade em todos os países.

Numa das minhas viagens a Maiorca, em Espanha, enviei um mail a perguntar se o autocarro para a praia estava adaptado e a resposta que recebi, foi que todos os autocarros em Espanha estão adaptados pois é obrigatório. Não sei se estarão todos mas sei que nunca tive qualquer problema em andar por lá!

Andar de avião é o mais incómodo, mas é possível e há um serviço todo pensado e que funciona, quase sempre, na normalidade. É, no entanto, possível, e necessário, ainda, melhorá-lo. Este é um processo que implica alguma complexidade pois são várias as tarefas a garantir para que tudo corra da melhor maneira. Há o transporte de e para o avião, a entrada e saída do avião, a questão da casa de banho e garantir que a cadeira de rodas segue no voo. A maior parte dos problemas acontecem quando a demora para resgatar a pessoa do avião, após a aterragem, demora muito tempo.

Turismo acessível – alojamento

Relativamente a este tópico constatamos que, muitas vezes, os espaços não estão adaptados ou por desconhecimento, por falta de tempo ou por qualquer outra razão e também porque adaptá-los implica gastar mais dinheiro, uma vez que são necessárias obras e equipamento extra.

Nos dias de hoje será muito difícil aceitar todas estas razões em grandes empresas ou em grandes grupos hoteleiros. Isso é incompreensível! Também não consigo aceitar quando uma empresa de turismo, mesmo que pequena, não apresente todas as condições, se esta for recente.

Estive há pouco tempo num pequeno hotel, acabado de inaugurar, e venderam-me um quarto como estando adaptado apenas porque tinha áreas grandes. Ter um quarto com dimensões grandes não o tornam adaptado a quem tem mobilidade condicionada. Quando questionei o dono do hotel ainda insistiu comigo em que estava adaptado até porque era obrigatório.

Turismo acessível – praias

Os destinos de praia acessível são cada vez em maior número. Em Portugal, de acordo com o programa “Praia Acessível, Praia para todos”, existem, neste momento, mais de duzentas zonas balneares acessíveis. As entidades envolvidas neste projecto, que arrancou em 2004, são o Instituto Nacional de Reabilitação, a Agência Portuguesa do Ambiente e o Turismo de Portugal com a colaboração dos respectivos Municípios.

Há, ainda, muito a fazer mas se a evolução continuar no mesmo sentido, em breve teremos muito mais praias acessíveis. Espero que este projecto termine, apenas, no dia em que todas as praias do país sejam realmente acessíveis.

Sendo Portugal um destino de praia, acho que este é um dos programas em que se deveria apostar, ainda mais, tornando o maior número de praias de facto acessíveis. Do mesmo modo considero que deveria o próprio programa ser mais exigente, uma vez que para ser considerada praia acessível não é obrigatório, mas apenas recomendado, haver uma cadeira anfíbia, imprescindível para que qualquer pessoa que se desloque em cadeira de rodas consiga ir à água.

Mas não é só em Portugal que se coloca o problema das praias acessíveis.

Espanha, quanto a mim, é dos países com melhor oferta, neste âmbito, tanto em quantidade como em qualidade de serviços.

Mentalidades

Falando de mentalidades, estas evoluíram com os tempos. Hoje em dia, há muito mais informação e conhecimento relativamente às situações da pessoa com deficiência. Por exemplo, estar numa cadeira de rodas implica, na maior parte das vezes, um acidente, as pessoas sabem isso e têm consciência de que pode acontecer a qualquer um.

 

Verifico que há muito mais respeito pela pessoa com deficiência e pela sua situação, mas não estamos livres de discriminação e preconceitos. Há um longo caminho a percorrer nesse sentido.

 

Os municípios apostam, cada vez mais, na acessibilidade e mobilidade das suas cidades e, cada vez mais, se criam condições para que as pessoas possam sair de casa e usufruam de momentos de lazer e divertimento.

 

16% da população mundial tem alguma incapacidade

Dados da Organização Mundial de Saúde

 

O evoluir da ciência e o aumento da esperança e qualidade de vida das pessoas faz com que, na reforma, muitas se dediquem a viajar e fazem-no, normalmente, em época baixa e com estadias mais prolongadas.

Verifica-se que estes números, no mínimo, duplicam quando constatamos que uma pessoa com deficiência viaja, normalmente, acompanhada. Sobem mais, ainda, se adicionarmos as limitações temporárias de grávidas, crianças, idosos ou até de pessoas que se desloquem com muletas.

O turismo acessível deve, assim, ser encarado como uma oportunidade de negócio, havendo ainda muito por onde evoluir já que estamos longe de encontrar uma oferta que responda, efectivamente, a todas as necessidades.

JustGo!!

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