Viajar de avião para quem está em cadeira de rodas não é a coisa mais prazerosa que existe e não evoluiu muito ao longo dos anos. Os dois grandes problemas são entrar no avião e ir à casa de banho, mesmo quando esta indica que é para pessoas com mobilidade reduzida. Já comprar bilhete e tratar de todo o processo para solicitar assistência está cada vez mais fácil.

Praticamente, já todas as companhias têm disponível, no site, informação sobre como se deve proceder e, normalmente, há, apenas, que preencher um formulário onde escolhemos qual o tipo de apoio de que necessitamos.

Quem presta a assistência não é a companhia, mas sim o serviço do aeroporto dedicado apenas a isso, no entanto, é a companhia que recebe o pedido e faz a ligação.

São vários os tipos de assistência disponíveis: mobilidade reduzida, passageiros surdos, cegos, animais de assistência, grávidas, entre outros. Consulte o site da companhia para ter toda a informação disponível pois varia de companhia para companhia.

Para passageiros em cadeira de rodas ou que tenham dificuldade em andar existem três tipos de assistência:

  • Não tem cadeira de rodas, mas precisa de uma para grandes deslocações, como, por exemplo, para ir até ao avião. Para esse caso, existe um serviço em que fornecem uma cadeira do aeroporto e acompanham a pessoa desde o checkin até à porta do avião;
  • Tem cadeira de rodas pessoal, mas consegue percorrer pequenas distâncias e, nesse caso, a assistência que precisa é, apenas, até à porta do avião no caso de não haver manga, mas, uma vez na porta, consegue ir sozinho até ao lugar do avião;
  • Tem cadeira de rodas e não anda. Nesse caso, vai precisar de uma cadeira de cabine para entrar no avião e ir até ao lugar do assento. Este é o meu caso!

Solicitar o serviço

Quando compramos o bilhete online, surge, quase sempre, ao longo do processo de compra, a questão sobre se somos um passageiro com mobilidade reduzida e, então, escolhemos a opção que mais se adequa a nós. Mas podemos sempre solicitar o serviço mais tarde, com o número da reserva, através do site. Convém solicitar este serviço com alguma antecedência.

Normalmente, pedem informação sobre as medidas e o peso da cadeira e se é manual ou eléctrica, sendo que, neste caso, pedem, também, informação sobre as baterias. As cadeiras eléctricas não podem ir até ao avião e têm que ser despachadas na altura do checkin. As baterias têm que estar desligadas e protegidas, mas, como não uso, não sei exactamente como se deve proceder. Há que confirmar no site da companhia.

O que fazer com a nossa cadeira?

Como sugestão, o que faço sempre, é ir até à porta do avião na minha cadeira e, só nessa altura, a levam para o porão. Nunca, mas nunca, despacho a minha cadeira no checkin. Este é o procedimento igual ao que, normalmente, fazem para os carrinhos de bebé. Porque faço isto? Bem, primeiro porque é muito mais cómodo andar na minha cadeira do que nas que eles nos fornecem. Depois, porque prefiro que levem a minha cadeira para o porão apenas nessa altura, garantindo que não vai andar aos tropeções com as malas, em tapetes e carros onde pode cair e estragar-se. E, por último, porque assim consigo que ma devolvam, também, na porta do avião quando chego ao destino.

Existe uma etiqueta para colocar na cadeira para garantir que, ao chegar ao destino, não levam a cadeira para o tapete e a deixam à porta do avião. Esta etiqueta é-nos dada no checkin, mas nem sempre existe. Não faz mal, porque, mesmo sem etiqueta, eles devolvem a cadeira à porta do avião, mas, pelo sim e pelo não, o melhor é quando chegamos solicitar ao pessoal de bordo para ter atenção, pedir que não levem a cadeira e a deixem à porta.

Não estamos livres de que nos aconteça algum estrago na cadeira, aliás é muito comum. São muitas as vezes que vemos pessoas a queixarem-se de situações muito desagradáveis e que ficam com as cadeiras estragadas. Claro que, nesse caso, eles se responsabilizam pelos estragos e pagam a cadeira ou o arranjo, mas o melhor é evitar e seguir a nossa viagem tranquilamente. Felizmente, tenho tido sorte e apenas uma vez me rasgaram o encosto da cadeira.

Acessórios da cadeira

Se tem algum acessório que use para fixar à cadeira, como, por exemplo, uma roda todo o terreno, tem o direito a levá-lo sem pagar, bastando indicar esse facto quando estiver a fazer o checkin e, dependendo do acessório, irá ser despachado na bagagem de dimensões especiais. Não se esqueça depois de ir buscá-la ao tapete, quando chegar.

Do mesmo modo, é possível levar outra cadeira extra sem pagar mais por isso. Enquanto joguei ténis adaptado era assim e acho que não deve ter mudado. Consultar as regras de cada companhia.

Checkin

Pode optar por fazer o checkin online, mas, a partir do momento em que informa que é passageiro com mobilidade reduzida, a opção de escolher o lugar fica bloqueada, pelo que, normalmente, faço o checkin quando chego ao aeroporto para tentar ir ao lado da pessoa que me acompanha. Ultimamente, nem sempre consigo porque os lugares já estão todos escolhidos. Tente ligar para a companhia e fazer esse processo por telefone. De qualquer modo, é obrigatório ir ao balcão de checkin, mesmo que o faça online.

Embarcar e desembarcar

Para embarcar, basta dirigir-se até à porta de embarque e esperar pela equipa que o vai ajudar a entrar no avião. A partir daí, será acompanhado por eles até estar sentado no avião. Eles levam a cadeira de bordo para a qual nos passamos à porta do avião e, depois, para o assento do avião. Se necessitar de ajuda eles ajudam na passagem. Tudo se processa do mesmo modo à chegada. Se preferir, acompanham-no até ao tapete de recolha da bagagem.

Somos, normalmente, os primeiros a entrar no avião e os últimos a sair. Se o processo de entrar no avião é relativamente rápido, para sair é sempre, quase sempre, muitas vezes um processo muitoooo lento. Já cheguei a esperar cerca de uma hora para me irem buscar ao avião. Felizmente, não é sempre assim, mas é raro ser um processo rápido. Por este facto, há que ter em atenção ao comprar voos com escala em que é necessário mudar de avião, pois há que acautelar o tempo entre voos.

A sorte é calhar-nos um voo com manga, caso contrário vamos ter que ir de autocarro até ao avião e depois passar para o Ambulift, um veículo que se eleva até ao avião.

Existem companhias que disponibilizam cadeiras de rodas de bordo em voos de longo curso, especialmente concebidas para circular nos corredores estreitos e, assim, facilitar a mobilidade na cabine, podendo ser usada para ir à casa de banho. Há que solicitar à companhia que leve esta cadeira a bordo.

O futuro

Todo este processo faz com que seja muito desconfortável andar de avião, para quem tem mobilidade reduzida. Muitas pessoas desistem mesmo de o fazer com receio de que alguma coisa aconteça com a cadeira e com a questão da casa de banho, que, para muitos, se torna mesmo impossível.

Tudo isto piora quando se trata de uma cadeira eléctrica, pois são muitos os relatos de situações em que as cadeiras se estragam e é fácil prever o que isso implica para a pessoa.

Existem já alguns estudos de soluções em que será possível entrar com cadeiras no avião, facilitando todo este processo e tornando-o mais digno, assim como soluções de casas de banho adaptadas. No entanto não há previsões de quando se tornará real.

Alguns exemplos

A All Wheels Up é uma organização que faz testes e apresenta soluções sobre este assunto, assim como estuda soluções para planos de emergência.

A Acumen Design Associates desenvolveu um estudo para uma casa de banho adaptada que permitia uma pessoa com mobilidade reduzida entrar com a cadeira e até com espaço para entrar um acompanhante, no caso de necessitar de ajuda.

A PriestmanGoode, a Flying Disabled e SWS Certification revelaram o Air 4 All, um sistema que quer revolucionar as viagens aéreas para passageiros com mobilidade reduzida, permitindo que os passageiros em cadeiras de rodas eléctricas permaneçam nas suas próprias cadeiras durante toda a viagem.

Andrea Mocellin desenvolveu a Revolve Air, um protótipo de cadeira que se dobra e que pode ser levada junto com a bagagem de mão.

Legislação

Regulamento 1107/2006 – Direitos das Pessoas com Deficiência e Mobilidade Reduzida no Transporte Aéreo

Conclusão

Enquanto o futuro não chega, vamos ter que viajar com o que nos oferecem, pelo que, cada um terá de decidir se se sente seguro ou confortável com estas condições, e vai, apenas, se achar que mais vale ir do que não ir. Arriscar faz parte da vida e quem anda em cadeira de rodas arrisca todos os dias um bocadinho, principalmente nas ruas com buracos e sem condições para quem tem mobilidade reduzida.

Tudo isto varia de companhia para companhia e nem sempre corre tudo normalmente. Com a Hong Kong Airlines, a cadeira de bordo era minúscula e quase caí, pelo que temos que ter muita atenção e, pelo menos, eu não confio a 100% no pessoal e estou sempre atenta.

Eu continuo a achar que mais vale ir e aproveitar o que o Mundo tem para nos oferecer, mesmo correndo alguns riscos. Tudo é uma questão de nos habituarmos e adaptarmos às condições e, apesar de todos estes passos, tudo corre sempre dentro da normalidade e sem grandes percalços.

Prepare bem a sua viagem, não se esqueça de levar a bordo alguma medicação de que necessite e as respectivas receitas do médico, se necessário. Desde que numa viagem a Utrecht, para participar num torneio de ténis, a minha mala não chegou e tive que comprar todo o equipamento necessário para poder jogar que levo sempre uma mala de cabine com o imprescindível e sem o qual não posso mesmo passar.

Em voos longos, faça movimentação das pernas. Eu procuro não comer, nem beber muito, antes e durante o voo, para evitar ir à casa de banho, mas há que ter atenção para não desidratar.

Ufff! E depois disto tudo, o melhor é apressar-se que já estão a chamar para o embarque! Boa viagem!

JustGo!!

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